Primeira alta relevante desde março sugere retomada gradual do consumo, mas cenário segue marcado por choques setoriais e perda de fôlego da demanda
O volume de vendas do comércio varejista cresceu 0,5% em outubro, na comparação com setembro, já descontados os efeitos sazonais, segundo a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) divulgada pelo IBGE nesta quinta-feira (11). Trata-se da primeira alta estatisticamente significativa desde março, encerrando um período de variações modestas ou negativas. Na comparação anual, o setor avançou 1,1%, acumulando 1,5% no ano e 1,7% em 12 meses.
A leitura de outubro mostra uma expansão bastante disseminada, com alta em sete dos oito segmentos pesquisados. O movimento interrompe uma sequência de meses marcada pela oscilação entre estabilidade e recuo, refletindo um consumo ainda afetado pela desaceleração da renda real, pelas restrições financeiras das famílias e pela persistência de juros elevados.
O destaque do mês veio de Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (+3,2%), seguido por Combustíveis e lubrificantes (+1,4%), Móveis e eletrodomésticos (+1,0%) e Livros, jornais e papelaria (+0,6%). Supermercados, segmento de maior peso na pesquisa, apresentou leve alta de 0,1%, contribuindo para o resultado agregado, enquanto o único recuo foi registrado em Tecidos, vestuário e calçados (-0,3%), afetado por queda na demanda por moda e acessórios.
No varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, houve avanço de 1,1%. O setor automotivo puxou o desempenho, com alta de 3,0%, enquanto material de construção subiu 0,6%. A expansão no atacado de alimentos, bebidas e fumo também reforçou a recuperação do segmento.
Na comparação com outubro de 2024, seis das oito atividades apresentaram crescimento, com destaque para informática e comunicação (+8,1%), artigos farmacêuticos (+5,7%) e móveis e eletrodomésticos (+3,5%) — segmentos sensíveis ao ciclo econômico e ao crédito.
A dispersão geográfica também confirma a melhora relativa da atividade: 19 das 27 unidades da federação cresceram de setembro para outubro, com destaque para Espírito Santo (+2,7%), Rondônia (+2,6%) e Distrito Federal (+2,5%). No entanto, estados como Mato Grosso (-1,8%) e Rio Grande do Sul (-1,2%) registraram recuos relevantes, refletindo condições locais mais adversas.
O resultado reforça a leitura de que o varejo avança em trajetória de recuperação moderada, apoiado pela inflação em níveis mais benignos e pelo mercado de trabalho ainda aquecido. Entretanto, o setor segue condicionado por um ambiente de crédito restritivo e por uma confiança do consumidor que permanece oscilante. Para os próximos meses, a dinâmica dependerá da evolução da massa de renda, do comportamento dos preços — sobretudo de alimentos — e da sinalização futura da política monetária.

