A manutenção da Selic em 15% não surpreende ninguém. Mas a decisão do Copom reforça algo mais profundo: o Brasil entrou na fase da paciência forçada. O Banco Central reconhece que o ambiente global está mais instável, que a política monetária americana continua restritiva e que o risco geopolítico subiu de tom. Em outras palavras, o espaço para errar ficou menor.
A leitura é simples, mas incômoda. O Copom manteve os juros não por conforto, mas por desconfiança. O comitê enxerga uma inflação que desacelera lentamente, um mercado de trabalho ainda forte e expectativas que não cedem. Com projeções de 4,5% para 2025 e 4,2% para 2026, a meta de 3% parece mais um objetivo moral do que uma ancoragem real.
A mensagem é clara: os juros vão ficar altos por mais tempo. E isso tem custo. Para as empresas, significa capital caro, menos apetite a risco e investimentos postergados. O crédito corporativo — já seletivo — deve ficar ainda mais concentrado em grandes companhias com rating elevado. Pequenas e médias, que dependem do capital de giro, continuarão respirando por aparelhos.
Para as famílias, o impacto é direto no bolso. O crédito imobiliário encarece, o parcelado pesa mais, e o consumo, que vinha sustentando parte da atividade, tende a perder força. A renda até cresce, mas o orçamento continua apertado. O juro alto, neste momento, é o preço da estabilidade — e o freio da retomada.
No setor público, o desafio é outro: manter a credibilidade fiscal enquanto o custo da dívida aumenta. Cada ponto de Selic significa bilhões de reais a mais em juros pagos pelo Tesouro. E sem âncora fiscal clara, o prêmio de risco não cede, travando o caminho para uma redução consistente da taxa. O Banco Central, nesse cenário, prefere errar por excesso de cautela do que por precipitação.
No mundo, os ventos não ajudam. Os Estados Unidos seguem com uma política monetária restritiva e um dólar forte, o que drena liquidez dos emergentes. As tensões comerciais e geopolíticas adicionam incerteza e empurram os investidores para ativos seguros. O Brasil, que precisa de previsibilidade, enfrenta um ciclo global que cobra prêmio por confiança.
A decisão do Copom é, portanto, um gesto de prudência com custo político e social elevado. Ela adia a sensação de alívio, mas protege o horizonte de estabilidade. Manter juros em 15% é admitir que o país ainda não reconquistou a âncora das expectativas — e que o caminho até lá será lento e desigual.
No curto prazo, o juro alto segura o consumo, limita o crédito e pressiona o investimento. No longo, pode garantir um ganho mais valioso: a volta da confiança no compromisso com a meta de inflação. Entre aliviar agora ou corrigir mais tarde, o Banco Central escolheu o caminho da paciência.
E, no Brasil, paciência sempre custa caro.

