Autor: Pedro Paulo Paulino

Atuante tanto na literatura de cordel quanto na poesia erudita, com diversas conquistas em prêmios literários de âmbito nacional. Além de seu trabalho como escritor, ele também é redator e diagramador de jornais, revistas e livros, atuando dentro e fora de Canindé. Como radialista, Pedro Paulo apresenta um programa aos domingos, focado em resgatar sucessos da Velha Guarda.

Como se tivesse sido ontem, olho o calendário na parede e vejo que é primeiro de janeiro. Hoje, olho o mesmo calendário lá no seu canto e vejo que já estamos em agosto. Ao passo em que se apresenta o oitavo mês do ano, ainda parece-me respirar a atmosfera do Natal passado e ouvir os estampidos do Revéillon. A euforia do Carnaval também me parece  que foi ontem. E assim, não é à toa que uma das interjeições mais repetidas por todos nós, com assaz frequência, é: como o tempo está passando rápido! Empregamos o verbo no gerúndio, com a…

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Em 25 de julho, festejam-se o dia do Escritor, dia do Motorista e dia do Trabalhador Rural. Talvez não seja por mero acaso que a tríplice efeméride acontece na mesma data. Entre o motorista e o escritor nota-se forte afinidade. De modo que, quem maneja a pena, como quem conduz a direção precisa, sempre, de muito tento, conhecimento da estrada e domínio sobre as regras da profissão. No trânsito tumultuado sempre, muita vez o bom motorista tem que dirigir por si e pelos outros. Com o bom escritor é semelhante a situação. No vasto e promíscuo oceano de publicações virtuais…

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Eles estão retornando. Os santinhos bissextos, uma vez mais, descem das alturas para, embaixo na terra, refazerem sua peregrinação, por tudo quanto é buraco, batendo de porta em porta, distribuindo simpatia, aperto de mão, abraços e tapinhas nas costas. Chegam incensados, aureolados, puros, imaculados, reinventando assuntos e propostas salvadoras, apontando caminhos e soluções para todos os problemas. Não recebem promessas de seus devotos; do contrário, os santinhos bissextos fazem, eles mesmos, as promessas. E tantas são, que não têm conta. Todos os esforços são por eles feitos, na busca incansável e ansiosa pelo óbolo do povo, em forma de voto,…

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Morreu no começo desta semana, nas proximidades da cidade de Canindé, um homem de 104 anos. Seu Raimundo Medeiros cruzou a linha dos cem anos de vida em 2020, logrando viver ainda os primeiros quatro anos desta década. Viver é o termo certo, porque, mesmo tão longevo, ele mantinha uma existência ativa, cuidando da roça, participando ativamente da convivência familiar e entre amigos, a memória em dia, a conversa aprumada, com arrimo de uma lucidez admirável. Na noite de domingo, com dificuldade de respirar, foi levado ao hospital, aonde chegou com os próprios pés. Antevendo seus momentos finais, despediu-se, abençoou…

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Faz poucos dias ainda, o drama de um cachorro de rua chamou-me a atenção. Ferido em um braço, o animal abandonado permaneceu caído à beira da estrada, ficou ao relento uma noite inteira de chuva e, pela manhã, foi visto por uma senhora que passava no local. Comovida com o estado lastimável do cão, a primeira coisa que ela fez foi chorar copiosamente. E a segunda coisa foi tomar alguma providência. Como se vê, tratava-se de uma dessas almas raras que se compadecem da dor alheia. Pediu ajuda a outras pessoas, colocou o cachorro no carro, e mesmo interrompendo a…

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Há precisamente meio século o sertão virou mar. Depois da seca demorada no começo da década, o inverno de 1974 ficou na memória daquela geração que testemunhou inundações, desabamentos de casas e pontes, estradas interrompidas, arrombamentos de açudes e barragens, cidades praticamente submersas. Algo parecido com dilúvio atingira o Ceará e outros estados nordestinos, causando transtorno de toda ordem. Eu era ainda moleque de calção curto e escaramuçava no terreiro, montado no meu Pégaso feito de talo de carnaubeira, quando ouvia as pessoas grandes falarem sobre as torrentes de chuva em tudo que era canto. Várzeas tomadas pelas enchentes que…

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Os três personagens que emprestam seus importantes nomes às festas juninas brasileiras não são nossos patrícios. Todos eles nasceram muito longe daqui e em épocas muito distantes. Mas granjearam tanta simpatia e graça do povo brasileiro, em particular no Nordeste do país, que é mesmo como se fossem filhos desta terra. O primeiro deles, Antonio de Lisboa e de Pádua, foi um europeu, contemporâneo de Francisco de Assis, e viveu, portanto, entre os séculos doze e treze, muito antes da chegada das caravelas portuguesas no Brasil. É para ele que se acende a primeira fogueira festiva de junho: quer no…

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O dia dos Namorados, ocorrido no meio desta semana, foi coroado uma vez mais pelo tom romântico e o glamour convenientes à ocasião. De modo que, para não estragar a festa, convém-nos sempre evitar comentários sobre o toque apelativo estimulado pelo comércio da troca de presentes e outros mimos, nesse período. Notadamente quando se sabe que a data foi instituída no Brasil em fins da década de quarenta do século passado, por um astucioso marqueteiro e por solicitação de uma empresa ávida por lucros. Basta dizer que, para melhor efeito, o publicitário acomodou a efeméride na véspera do dia de…

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É assim que os cearenses chamamos o encerramento da quadra chuvosa, de janeiro a junho, quando não há seca. Eu não esperava encontra-la no Aurélio, mas eis que lá está, dicionarizada melo mestre do pai-dos-burros. “Bras. CE – O fim da época chuvosa, em junho”, sintetiza o léxico. Desmembrada a expressão, temos dois substantivos e uma preposição no meio, que no dicionário foram aglutinados e viraram um único substantivo masculino plural. Fins-d’água tem sua genealogia no nosso linguajar caboclo. É patrimônio do nosso cearencês. Brotou do espírito do povo, mestre em criar seus próprios verbetes e expressões, nos quais expressa…

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Até hoje, passados já quatro anos, não é com tristeza que relembro Arievaldo Viana. Impossível recordá-lo, sem que sua presença em minha memória seja sempre aquela presença vibrante e eletrizada, cheio de motivações e alguma nova realização intelectual para apresentar. Aquele 30 de maio, em que o poeta prestou conta com este mundo e encantou-se, esse sim, foi o único e definitivo momento de profunda tristeza que dele guardarei. Não estava longe, dois anos apenas, ele havia dado à luz seu derradeiro rebento de papel, batizado No tempo da lamparina, livro de memórias, que eu poderia estimar como seu mais…

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