Autor: Pedro Paulo Paulino

Atuante tanto na literatura de cordel quanto na poesia erudita, com diversas conquistas em prêmios literários de âmbito nacional. Além de seu trabalho como escritor, ele também é redator e diagramador de jornais, revistas e livros, atuando dentro e fora de Canindé. Como radialista, Pedro Paulo apresenta um programa aos domingos, focado em resgatar sucessos da Velha Guarda.

Numa certa manhã, enquanto aguardava atendimento em agência bancária, tomou-me de surpresa uma cena raríssima hoje em dia. Sentou-se perto de mim uma jovem, de elegância à vista e que de sua bolsa puxou, em lugar do samartphone, um livro (creia-me, um livro!) de páginas já meio amareladas, e pôs-se a ler calmamente. A surpresa cresceu quando constatei, relanceando os olhos, que se tratava de uma edição em espanhol de Histórias Extraordinárias, do escritor de língua inglesa Edgar Alan Poe. Página por página, a jovem leitora entretinha-se, enquanto aguardava sua vez. No mesmo recinto, um vistoso número de pessoas cabisbaixas,…

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Enquanto os olhos de todo o planeta se voltam, neste momento, para a cidade de Belém, capital do Pará, o meu olhar continua centrado na paisagem seca e cinzenta ao meu redor, no meu pequeno torrão encravado no meio do Semiárido cearense. Em outras palavras, no meio do quase deserto. Lá na metrópole que é a porta de entrada da Amazônia, acontece agora um encontro global onde chefes e delegações de várias nações vão debater, pelo trigésimo ano consecutivo, o futuro do clima e do planeta Terra. Mas por aqui, nesta reta final do ano, nós cearenses estamos vidrados, uma…

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No dia dedicado aos mortos vêm-me sempre à lembrança aqueles que se foram e não deixaram túmulo. Isto vale tanto para os anônimos quanto para as celebridades. No primeiro grupo, existe uma vasta quantidade de pessoas, incluindo as vítimas de epidemias, de acidentes aéreos de grande proporção e os mortos nas guerras, por exemplo. No rol das pessoas famosas, pelos menos dois grandes vultos foram enterrados não se sabe mesmo onde. De Camões, lê-se que: “Entre 1579 e 1581 grassa em Lisboa, mais uma vez, violenta peste. A morte sobrevém em quatro ou cinco dias. No meio do caos reinante,…

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É conhecida a frase do escritor Nelson Rodrigues: “Deve-se ler pouco e reler muito. Há uns poucos livros totais, três ou quatro, que nos salvam ou que nos perdem. É preciso relê-los, sempre e sempre, com obtusa pertinácia”. A meu ver, porém, a sentença pode, sem prejuízo algum, resumir-se ao primeiro período: “Deve-se ler pouco e reler muito”. O ato de reler, evidentemente, inclui reler por completo um livro de autor da nossa predileção, ou apenas trechos, ou páginas salteadas, ou capítulos inteiros. Às vezes, relemos estritamente por necessidade ou fonte de pesquisa associada a outra leitura do momento ou…

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O mês de outubro orgulha-se por reservar em seu transcurso duas datas comemorativas de forte apelo emocional e profunda simpatia. Em 12 de outubro, comemora-se o Dia da Criança; e em 15, o Dia do Professor. Que a primeira efeméride venha antes, faz sentido. Afinal, o pupilo é que depende do seu mestre. E tão estreita é a relação entre ambas, que apenas dois dias separam uma data da outra. Na festa em homenagem às crianças, os adultos, inclusive os alistados na chamada terceira idade, aproveitam para tirar uma casquinha e comemorar a ocasião relembrando que um dia foram também…

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Foi sepultado no cemitério de Vila Campos, na tarde de sábado, 11/10, o corpo de José Freire Sobrinho, o popular Zé Freire. Ele contava 88 anos e teve morte natural no começo da noite de sexta-feira. Grande número de amigos presenciou o velório durante a noite, na casa em que ele morava, no distrito de Esperança. Na tarde seguinte, o corpo foi velado também na capela em frente ao cemitério de Vila Campos. Sertanejo de fibra, agricultor e pequeno criador, Zé Freire notabilizou-se no gracejo popular por sua originalidade e capacidade de criar histórias, anedotas e contar causos relacionados à…

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Domingo que vem, 12 de outubro, é Dia da Criança. Em torno dessa data lúdica, mergulho fundo no baú das minhas recordações, pedindo licença ao caro leitor, para puxar um pouco de brasa para a sardinha da minha infância. A fotografia que ilustra esta crônica é uma das poucas que restou da minha meninice vivida na zona rural. Na imagem, malconservada, estou sentado no balcão da bodeguinha de meu pai, um pequeno comércio de beira de estrada. E junto a mim seguro um gato. Nessa época, vale dizer, eu tinha uma fazenda de gatos, com um rebanho estimado em cerca…

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Houve tempo em que as cenas mais comuns da Festa de São Francisco de Canindé, no Sertão Central cearense, eram os comboios de caminhões, no geral cobertos de lona e vindos dos mais distantes rincões trazendo romeiros. Hoje, esses caminhões já foram substituídos pelas frotas de ônibus modernos, servidos de ar-condicionado e outros itens de conforto. Também as caravanas de romeiros a pé, vestidos em seus hábitos marrons e empoeirados se dirigindo a esta cidade, estão sendo substituídas pelas estrondosas motorromarias que a cada ano se tornam mais concorridas. Foram as caminhadas em romaria que inspiraram Humberto Teixeira e Luiz…

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Rubem Braga, mago da crônica brasileira, tem uma que se chama “Um pé de milho”, que até virou título de livro. Texto enxuto e saboroso como o próprio milho em todas as suas performances, da espiga cozida ou assada à pamonha. Palavras líricas com cheiro de milho verde e a magia de uma boneca de milho agarrada ao caule, os cabelos loiros atiçados ao vento. No meu caso, admirável Braga, permita-me falar qualquer coisa sobre um pé de algodão, tão misantropo quão seu pé de milho urbano. Avistei-o à beira do asfalto, sob o céu límpido e ensolarado de setembro,…

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Fiquei pra lá de contente quando descobri o nome daquela árvore majestosa que sempre me prendeu o olhar. De grande porte, tronco robusto, copa altaneira e frondosa, raízes vigorosas fincadas no chão como garras de um gigante, ela se distingue ao longe do conjunto da flora de uma cidade cravada no meio do sertão. Não faz muito tempo, indaguei a um desconhecido de cabelos brancos, que avistei recostado no tronco da árvore e usufruindo a sua sombra, se ele sabia o nome dela. Disse-me, quase resmungando, que a conhece há pelo menos uns cinquenta anos, sem lhe saber o nome…

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