A possível entrada da Caixa Econômica Federal no mercado de apostas esportivas on-line reacendeu o debate sobre o papel das estatais e os riscos sociais associados à expansão das chamadas bets no Brasil. A ideia de criar uma plataforma própria de apostas pelo banco público tem sido vista com preocupação por economistas, juristas e representantes do setor social, que apontam incoerência com a missão institucional da Caixa, voltada a políticas públicas e programas sociais.
Críticos argumentam que, ao entrar nesse mercado, a Caixa passaria a competir com empresas privadas em um segmento marcado por alta vulnerabilidade financeira dos apostadores, muitos deles de baixa renda. Além disso, alertam que o movimento pode aprofundar o endividamento das famílias e criar um conflito ético para uma instituição que administra programas como o Bolsa Família, o FGTS e o Minha Casa, Minha Vida.
Estudos recentes reforçam as preocupações. Relatórios da Confederação Nacional do Comércio e Turismo (CNC) e do Banco Central mostram que bilhões de reais têm sido transferidos por beneficiários de programas sociais para sites de apostas. Esses recursos, antes destinados a alimentação, educação e consumo essencial, estão migrando para um mercado que ainda enfrenta desafios de fiscalização e transparência.
Há também o alerta sobre o uso das plataformas de apostas para lavagem de dinheiro e evasão fiscal, segundo dados da CNC e da Polícia Federal. O setor movimenta cifras bilionárias com pouca rastreabilidade, o que amplia a necessidade de controle e regulação.
O debate chegou ao Congresso Nacional nesta semana. Em pronunciamento no Senado, Eduardo Girão (Novo-CE) classificou a proposta da Caixa como um “escárnio com o povo brasileiro” e, junto com o senador Cleitinho (Republicanos-MG), protocolou uma representação no Tribunal de Contas da União (TCU) pedindo que a medida seja analisada sob o ponto de vista da legalidade e do interesse público.

