A imposição de tarifas recíprocas em abril e, posteriormente, o aumento de 40% sobre parte das importações brasileiras pelos Estados Unidos, a partir de agosto, elevou o nível de incerteza sobre o desempenho da balança comercial em 2025. Ainda assim, dados do Indicador de Comércio Exterior (ICOMEX), da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostram que a perda de espaço no mercado norte-americano foi compensada, em grande parte, pela ampliação das exportações para outros destinos, especialmente a China.
Segundo a FGV, a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 5,8 bilhões em novembro, com crescimento de 2,4% das exportações e avanço mais intenso das importações, de 7,4%. No acumulado do ano até novembro, o saldo alcançou US$ 57,8 bilhões, o que representa uma redução de US$ 11,7 bilhões em relação ao mesmo período de 2024. A expectativa é de que o superávit de 2025 fique entre US$ 61 bilhões e US$ 65 bilhões.
A análise do ICOMEX indica que a principal pressão negativa veio do aumento do déficit comercial com os Estados Unidos, que passou de US$ 800 milhões em 2024 para US$ 7,9 bilhões em 2025. Esse movimento superou, inclusive, a redução do superávit com a China, que recuou US$ 3,3 bilhões no período. Por outro lado, o comércio com a Argentina apresentou melhora significativa, com aumento do superávit em US$ 5,1 bilhões, contribuindo para amenizar a queda do saldo global.
Os dados da FGV mostram ainda uma mudança relevante na dinâmica das exportações ao longo do ano. A partir de agosto, quando o tarifaço entrou em vigor, as vendas para os Estados Unidos passaram a registrar quedas mensais expressivas. No mesmo período, as exportações para a China aceleraram, com crescimento de quase 30% entre agosto e novembro, sustentando a expansão global das exportações brasileiras, mesmo em um ambiente externo mais adverso.
Outro destaque apontado pelo ICOMEX é o maior peso do setor de petróleo e derivados no resultado comercial. No acumulado até novembro, esse segmento respondeu por cerca de 47% do superávit total da balança comercial, frente a 38,6% em 2024. O desempenho foi favorecido principalmente pela queda mais acentuada das importações do que das exportações, além da redução dos preços internacionais.
A FGV também ressalta que os efeitos do tarifaço foram desiguais entre os setores. Segmentos com alta dependência do mercado norte-americano, como pesca, produtos de madeira e móveis, tiveram maior dificuldade para redirecionar vendas. Em contrapartida, setores com maior diversificação de mercados, especialmente no agronegócio e em parte da indústria de transformação, conseguiram compensar perdas com aumento das exportações para outros destinos.
Para investidores, a leitura do ICOMEX reforça a resiliência do comércio exterior brasileiro em 2025, sustentada pelo papel estratégico da China e pela competitividade das commodities. Ao mesmo tempo, o relatório alerta para riscos persistentes associados à política comercial dos Estados Unidos, à maior dependência do petróleo no saldo comercial e às incertezas que ainda cercam as exportações industriais, especialmente enquanto parte das tarifas sobre manufaturados permanecer em vigor.

