Estudo da Universidade Federal do Ceará mostra que o mineral de Canindé pode ser transformado em nanoplacas semelhantes ao grafeno, abrindo caminho para novos usos industriais e científicos
Pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), em colaboração com instituições nacionais, comprovaram que o grafite natural encontrado no município de Canindé, no sertão cearense, pode ser transformado em nanoplacas de carbono com propriedades próximas às do grafeno — material considerado um dos mais promissores do século XXI por sua resistência, leveza e condutividade elétrica e térmica. O estudo foi publicado na revista científica Materials, uma das principais referências internacionais em ciência e engenharia de materiais.
A descoberta reforça o potencial do Nordeste como polo emergente na cadeia global de materiais avançados. As análises conduzidas pela equipe identificaram que o grafite local apresenta elevada pureza e cristalinidade, características ideais para aplicações em sensores, baterias, tintas condutoras e revestimentos industriais. A professora Lucilene Santos, do Departamento de Geologia da UFC, explica que as nanoplacas com menos de cinco camadas reproduzem as propriedades do grafeno puro, mas com maior estabilidade e custo reduzido — um avanço importante diante das limitações atuais da produção em larga escala do grafeno.

O projeto também envolveu pesquisadores da Uece, da UnB, do IFCE e do Nutec, com financiamento do Programa Centelha, iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), da Finep, do CNPq e da Funcap. As amostras utilizadas foram fornecidas pela Breex Mining e Tecnologia Mineral, empresa instalada em Canindé, onde há estimativas iniciais de 2,7 milhões de toneladas de grafite — volume suficiente para sustentar uma nova frente de exploração tecnológica no estado.
A equipe agora busca escalonar o processo produtivo e testar as nanoplacas em aplicações reais. O objetivo é posicionar o Ceará no mercado internacional de nanomateriais, hoje dominado por países asiáticos. O material também tem potencial em tecnologias ambientais, como filtros para metais pesados e biossensores para detecção de doenças.
Segundo a professora Lucilene, o trabalho representa mais do que uma descoberta científica: trata-se de uma oportunidade estratégica para o desenvolvimento regional. O propósito é valorizar os recursos minerais locais, gerar empregos qualificados e promover uma economia sustentável e alinhada às demandas ambientais e sociais do sertão cearense.
A pesquisa completa foi divulgada pela Agência UFC, veículo de divulgação científica da universidade.

