Eu bem podia falar hoje, nestas despropositadas linhas que aqui dou à luz a cada sexta-feira, eu bem podia, repito, comentar sobre a beleza do amanhecer de pleno estio neste pedaço de mundo chamado sertão. Ou mesmo falar da noite, que nos mostra a cada edição, no céu de novembro, a majestosa constelação de Órion, com suas Três-Marias, tendo como vizinhas as formosas Plêiades, também chamadas de Sete-estrelo.
Porém, ao mesmo tempo, torna-se imperioso, a todos nós brasileiros, dar atenção ao máximo, nestes instantes, aos acontecimentos que tornaram esta última semana do mês de novembro de 2025 uma semana histórica, como jamais se testemunhou desde que Cabral perambulou por aqui há mais de cinco séculos.
Em vez de contemplar as belas estrelas na abóboda celeste, fixemos momentaneamente nossos olhares cá embaixo nesta terra brasilis, aguçando os cinco sentidos para acreditar no que comprovadamente está acontecendo ou aconteceu nesta semana invulgar.
Pois jamais se viu estampada no noticiário, desde a imprensa régia, manchete desse teor: “Pela primeira vez na história do Brasil, militares são presos por golpe de Estado”. Dá então pra não se comentar alguma coisa e ficar calado, como se ficou de boca forçosamente atada durante os anos de chumbo? Realmente não dá!
Do firmamento até então inexpugnável do oficialato brasileiro, testemunhamos uma constelação inteira despencar da abóbada celeste da arrogância e da quase divinal e inatingível esfera do quepe e dos uniformes de gala e rigor, para o abismo sombrio da enxovia, em que o coturno vai rimar com o soturno recinto fechado entre quatro paredes, onde o sol vai nascer quadrado por anos a fio.
É que se esforçando por sobreviver no ambiente imundo da tentativa do golpe de estado, havia uma senhora frágil e de compleição delicadíssima chamada Democracia, mas amparada por um antídoto de eficácia inabalável chamado de Constituição Federal. E ambas prevaleceram perante a intentona felizmente mal tramada do golpe que culminou com o quebra-quebra de oito de janeiro, quando as asas do Plano Piloto de Brasília por pouco também não foram dilaceradas pelas mãos vis e estúpidas da legião de ensandecidos sem amor algum ao que se chama de Pátria.
Ainda no primeiro quadriênio do século vinte e um, e em plena era deslumbrante da alta tecnologia digital, nossa geração testemunhou, estarrecida, acontecimentos que só os livros de história (e olhe lá!) que tratam das famigeradas Cruzadas e guerras descomunais são capazes de relatar. Legião de energúmenos violentos e desmiolados atentando contra os poderes legalmente constituídos, teleguiados por um capitão sem escrúpulo e seus apaniguados, que fizeram e aconteceram diante dos olhos inquestionáveis da moderníssima tecnologia eletrônica.
Não, não dá pra não comemorar um feito tão extraordinário, histórico e afagante para milhões de brasileiros que foram recentemente ameaçados de derrota de sua plena liberdade, por conta das tentativas sórdidas de implantação de nova ditadura, pelos que ora estão por trás das grades.
Dito isto, de peito aberto e alma lavada, voltemos novamente, agora, nossos olhares para a brilhante constelação de Órion, com suas Três-Marias e para as Plêiades, deste céu tão sertanejo. Ponto.

