Enquanto os olhos de todo o planeta se voltam, neste momento, para a cidade de Belém, capital do Pará, o meu olhar continua centrado na paisagem seca e cinzenta ao meu redor, no meu pequeno torrão encravado no meio do Semiárido cearense. Em outras palavras, no meio do quase deserto.
Lá na metrópole que é a porta de entrada da Amazônia, acontece agora um encontro global onde chefes e delegações de várias nações vão debater, pelo trigésimo ano consecutivo, o futuro do clima e do planeta Terra. Mas por aqui, nesta reta final do ano, nós cearenses estamos vidrados, uma vez mais, no que nos diz a meteorologia e a própria natureza acerca do inverno do próximo ano.
Isto mesmo, o inverno, visto que por cá só conhecemos a rigor duas estações: a do inverno, quando chove, e a do verão ou da seca. De modo que quando a estação oficial no país é o verão, temos em solo e céu cearenses o inverno; e vice-versa. Apegados organicamente a essas duas estações, que em tese dura seis meses cada uma, nem nos damos conta do outono e menos ainda da primavera. Esta, principalmente.
É que nunca temos o luxo nem a magia da estação das flores propriamente dita. Nossa estação das flores resume-se ao mês de maio, em ano de bom inverno, enquanto no restante do país, em igual período, predomina o outono. Do contrário, na primavera, os meses de setembro a dezembro costumam ser por aqui os mais tórridos do ano. Nesse período as nuvens de chuva desaparecem por completo, deixando em seu lugar reinar o sol inclemente, numa sucessão quase sem fim de dias de calorão intenso.
A paisagem ganha tons de cinza, e toda a vastidão da caatinga parece ter sido fulminada. O sol impiedoso tosta a folhagem e descolore a mata inteira. Os galhos dos marmeleiros, juremas, catingueiras, mufumbos, arbustos e cipós transformam-se em braços e mãos estendidos para os céus, como em súplica permanente. Com exceção de pequenos jardins nos muros ou nos quintais ou em canteiros de algumas vias públicas, não se vê uma única flor no meio da mata ressequida, embelezada, unicamente, aqui e acolá, pelo verde esmeralda das folhas do juazeiro.
Não temos primavera em nosso sertão adusto. Temos chuva, quando a chuva vem, e sol, presente sempre e cada vez mais impetuoso. A ponto de se ouvir por aí dizer que o sol parece ter baixado ou a terra se aproximado mais dele.
Fato é que o chamado aquecimento global, severa ameaça à saúde do planeta, também logicamente nos atinge em nosso Semiárido. Aquecimento que é o assunto da COP ou da Copa Mundial do Clima, que a cada ano, há três décadas, reúne delegações e governantes de grande parte do mundo, na busca de uma trégua por parte dos gigantes poluidores deste sutil planeta azul.
Ironicamente, durante esses últimos 30 anos, estima-se que a temperatura global tenha subido um grau e meio, com tendência de continuar subindo. Com a palavra, os donos do mundo, uma vez que nós, míseros mortais comuns, cada vez mais permanecemos longe das decisões e cada vez mais perto das consequências.

