Endividamento das famílias brasileiras cai para 78,5% em julho

O cartão de crédito continua sendo a principal modalidade de dívida

Por Carlos Augusto

8/1/2024

Pela primeira vez desde fevereiro deste ano, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apontou uma redução no endividamento da população brasileira. Em julho de 2024, 78,5% das famílias relataram ter dívidas a vencer, 0,3 ponto percentual (p.p.) abaixo do resultado de junho. Apesar da queda, o índice ainda é superior ao registrado em julho de 2023, quando era de 78,1%.

O cartão de crédito continua sendo a principal modalidade de dívida, representando 86% do total de devedores. No entanto, o maior crescimento foi observado no financiamento imobiliário, que aumentou 1,4 p.p. no ano, alcançando 9,1%, o maior percentual desde fevereiro de 2022. A diminuição do endividamento foi puxada pelas mulheres, com uma retração de 0,8 p.p. em comparação com o mês anterior, enquanto os homens mantiveram suas dívidas estáveis em relação a junho e 0,8 p.p. acima de julho do ano passado.

Segundo José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, o endividamento pode refletir maior acesso a recursos financeiros, aquecendo o comércio e a economia brasileira. Contudo, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) caiu 0,2% em julho, mostrando uma postura mais cautelosa dos consumidores. Tadros alerta para os riscos de inadimplência, que podem descapitalizar ainda mais o consumidor e limitar seu acesso a crédito.

A inadimplência se manteve estável em julho, comparada a junho, com um patamar de 28,8%, mas caiu 0,8 p.p. na variação anual. O percentual de famílias que não conseguirão pagar as dívidas em atraso reduziu para 11,9%, 0,1 p.p. a menos que no mês anterior e 0,3 p.p. abaixo de julho de 2023. No entanto, a proporção de famílias com dívidas em atraso por mais de 90 dias aumentou 0,3 p.p., chegando a 47,9% dos endividados, o maior índice desde novembro de 2023.

Para o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, a estabilização no percentual de famílias com dívidas atrasadas e a ligeira queda daqueles sem condições de pagar seus débitos indicam uma leve melhora nas finanças familiares. "Outro ponto positivo é a menor porcentagem da renda comprometida com dívidas, que foi de 29,6% em julho, sendo o quinto mês consecutivo de retração", destaca Tavares.

Projeções da CNC indicam que o endividamento deve cair nos próximos dois meses, para voltar a subir no final do ano, alcançando uma taxa de 78,4% em dezembro. A inadimplência, por outro lado, tende a aumentar gradualmente, atingindo 29,5% até o fim do ano.

Enchentes no Rio Grande do Sul agravaram o endividamento local, com o estado registrando 91,2% de famílias endividadas, o maior nível desde outubro de 2023. A inadimplência subiu para 38%, e 3,3% dos consumidores estão sem condições de pagar as dívidas, o mais alto percentual desde agosto de 2021. As dificuldades econômicas são evidenciadas também na Intenção de Consumo das Famílias (ICF) e no Índice de Confiança do Empresário do Comércio (Icec), apurados pela CNC.